LUTANDO COM REDES DE BOATOS PAPAIS

Todo apologista rapidamente aprende que muitas pessoas fazem afirmações incertas sobre o que os papas disseram.

Às vezes, é com o Papa atual. Outras vezes é com um papa muito antigo. Às vezes, diz respeito a matéria doutrinal. Outras vezes é relativo a questões práticas.

Às vezes, elas querem que você creia e aceite tudo o que o papa supostamente disse. Outras vezes, querem que você deduza que a declaração é tão absurda que a fé católica não pode ser verdadeira.

Qualquer que seja o caso, pessoas afirmarem coisas incertas sobre o que o papa disse é um fenômeno real – e generalizado. Eu chamo isso de rede de boatos papais.

Sempre que você encontrar uma pessoa assim, há uma série de perguntas que você pode fazer para ajudá-la a ir além dos boatos.

PERGUNTA 1: QUAL É A SUA FONTE?

Só porque alguém lhe diz algo, você não está obrigado a acreditar. Se alguém quer que você creia em algo – não interessa o assunto – o ônus da prova recai sobre esse alguém, não sobre você.

Isso é especialmente verdadeiro quando se trata de um ambiente conhecido por estar infestada de boatos, meias-verdades e mentiras absolutas – o que, infelizmente, caracteriza a rede de boatos papais. Portanto, se alguém quer que você acredite que um papa disse algo, a primeira pergunta a ser feita é qual é a sua fonte.

Muitas vezes, a resposta será muito decepcionante: “Não sei”; “Todo mundo sabe disso”; “Eu sempre ouvi falar isso”; “Alguém me disse”; “Acho que li um artigo em algum lugar”.

PERGUNTA 2: POR QUE VOCÊ ME RESPONDE QUANDO TIVER UMA FONTE?

Assim como você não tem o ônus da prova quando alguém afirma algo, também não tem o ônus de pesquisar. Se alguém quer que você acredite em algo, ele é quem tem o dever de provar o que alega. Portanto, não pense que você precisa largar tudo o que está fazendo para ver se há uma fonte para o boato.

Se por acaso você tiver tempo, se o assunto lhe chamar a atenção, ou se você sentir que poderia fazer um bem significativo (por exemplo, ajudando a esclarecer um problema para um questionador sincero e de mente aberta), você pode decidir fazer algumas pesquisas sobre a questão.

Mas isso não é sua responsabilidade – especialmente se a pessoa que espalha o boato for hostil ou de mente fechada.

Nesses casos, você tem o direito de dizer: “Vou te falar uma coisa: por que você não pesquisa e tenta encontrar uma fonte – de preferência uma fonte primária. Se você fizer isso, ficarei sabendo, e podemos examiná-la juntos.”

PERGUNTA 3: A FONTE É AUTÊNTICA?

Se a pessoa tiver uma fonte, o próximo passo é averiguar se ela é autêntica, porque nos últimos 2.000 anos houve atribuições errôneas, fraudulentas e falsificações sobre os papas.

Por exemplo, existe um antigo documento cristão conhecido como II Carta de Clemente. Por muito tempo, foi considerada uma carta escrita à igreja de Corinto pelo Papa São Clemente I, que reinou no final do primeiro século.

No entanto, os estudiosos de hoje geralmente acreditam que não foi escrito por ele e que é uma homilia cristã antiga de um autor desconhecido que viveu no início do segundo século. Aparentemente, em algum momento, foi acidentalmente atribuída a Clemente I.

Houve boatos deliberados também. Nos últimos anos, houve vários casos em que sites de “paródias de notícias” publicaram histórias alegando relatar o que o papa disse, quando na verdade ele não disse nada do tipo.

Eles fazem esse tipo de coisa – ostensivamente – por causa do humor. Mas alguns desses sites se esforçam tanto para fazer suas histórinhas parecerem sérias que parece que o único “humor” envolvido é a diversão que os criadores dos sites tem em enganar pessoas que acreditam em suas paródias.

Esses sites são um fenômeno moderno, mas um tipo semelhante de falsidade é encontrado na literatura anticatólica mais antiga. Antes que as pessoas pudessem pesquisar rapidamente as coisas na Internet, era mais fácil simplesmente fazer uma citação papal, e, às vezes, os autores que eram hostis à Igreja faziam isso para polemizar.

Às vezes, documentos inteiros eram falsificados e atribuídos a um papa, e isso nem sempre era feito por pessoas que eram inimigas da Igreja. Às vezes, era feito por pessoas que faziam parte da Igreja e queriam apoiar suas afirmações.

Um exemplo famoso é um autor do século IX que se chamava Isidoro Mercador. Ele publicou uma série de cartas papais forjadas (algumas das quais continham material verdadeiro) que agora são conhecidas como Decretos de Pseudo-Isidoro ou, mais comumente, Pseudo-Decretos.

Embora boatos, atribuições incorretas, e falsificações possam não ser a regra, é importante ter em mente que uma fonte fornecida pode não ser autêntica. Se você suspeita que não é, então deve dar uma checada.

PERGUNTA 4: QUAL É O TIPO DE FONTE?

Se uma fonte for autêntica, é importante observar que tipo de fonte é. Existem dois tipos básicos: fontes primárias e fontes secundárias.

Para nossos propósitos, uma fonte primária é algo que apresenta diretamente as palavras do papa em seu contexto original.

Os exemplos incluem reproduções de bulas papais, encíclicas, audiências e discursos. Eles também incluem gravações de áudio e vídeo de entrevistas com o papa que não foram editadas para alterar o contexto do que o papa disse.

Qualquer outra coisa, para os nossos propósitos, é uma fonte secundária.

PERGUNTA 5: QUÃO CONFIÁVEL É A FONTE?

As fontes têm graus variados de confiabilidade. Obviamente, fontes primárias são as que você quer, porque são as palavras do próprio papa, em seu contexto. Embora possa haver problemas com a tradução das palavras do papa, se você tem uma fonte primária, geralmente está em uma boa posição para avaliar a afirmação que lhe foi apresentada.

Por outro lado, se você tiver uma fonte secundária, ela pode te problemas reais.

Numa ponta do problema, há afirmações que as pessoas fazem no Facebook ou em outros fóruns da internet. Freqüentemente, eles não se preocupam em citar uma fonte. Eles apenas espalham o boato.

Em tais situações, muitas vezes não há como investigar, e devemos nos importar pouco com tais declarações. Freqüentemente, a resposta adequada será: “Desculpe, preciso uma fonte melhor do que essa”.

Na outra ponta, as fontes secundárias podem estar em trabalhos acadêmicos e terem sido publicadas por editoras acadêmicas. Isso tem muito mais peso do que algo que alguém falou no Facebook.

Todavia, mesmo aqui, você precisa ter cautela, porque os acadêmicos nem sempre estão certos. Este é especialmente o caso quando eles estão escrevendo fora de seu campo de especialização (ver barra lateral p. X).

Entre esses dois extremos, existem fontes com maior ou menor grau de credibilidade. [Então] algumas perguntas relevantes a serem feitas ao avaliá-las são:

1) Quanto das palavras originais do papa e de seu contexto estão sendo mostrados?

2) Quão polarizada essa fonte se mostra ser?

3) Quão confiável essa fonte geralmente é?

No geral, contudo, seu objetivo deve ser de ir numa fonte secundária e encontrar uma primária. Sem isso, você não pode ter certeza do que um papa disse.

PERGUNTA 6: A DECLARAÇÃO DO PAPA ENVOLVE DOUTRINA OU OUTRO ASSUNTO?

Depois de ter em mãos o texto do que o papa disse, uma das perguntas mais básicas a se fazer é se trata-se de uma questão doutrinária ou não.

Isso é importante porque as pessoas geralmente presumem que tudo o que um papa diz é um ensinamento da Igreja.

Este não é o caso. Em qualquer declaração, um papa pode estar fazendo várias coisas além de ensinar. Ele pode, por exemplo:

– Estabelecer uma norma para os católicos seguirem como lei da Igreja;

– Rezar ou louvar a Deus, como quando celebra a liturgia;

– Discutir sobre a história de algo;

– Expressando apreciação por alguma coisa;

– Dar avisos ou conselhos;

– Emitir uma opinião;

Em nenhum desses casos um papa está ensinando. Ele, portanto, não está estabelecendo a doutrina da Igreja quando faz essas coisas. O que ele diz pode refletir as doutrinas da Igreja. Assim, quando ele estabelece uma lei da Igreja, essa lei pode ser baseada em princípios doutrinários ou morais subjacentes.

Por exemplo, as leis da Igreja sobre o jejum e a abstinência de carne refletem o fato de que devemos em algumas ocasiões negar a nós mesmos como uma forma de adquirir autodomínio e de expressar arrependimento por nossos pecados. Seria um erro, contudo, dizer que a Igreja ensina que é uma questão de lei divina que jejuemos e nos abstenhamos em determinados momentos. Este não é o caso.

PERGUNTA 7: QUAL O NÍVEL DE AUTORIDADE DA DECLARAÇÃO?

Além de averiguar a natureza de uma declaração do Papa, é necessário verificar o nível de autoridade que ela tem.

Aqui, novamente, um erro corriqueiro é cometido: assumir que tudo o que um papa diz é infalível.

É raro um papa fazer uma declaração infalível. Quando ele faz isso, ele normalmente usa termos como “nós declaramos e definimos”. Se essas palavras não estiverem presentes, deve-se supor que uma declaração não é infalível.

De acordo com o Código de Direito Canônico, “Nenhuma doutrina deve considerar-se infalivelmente definida, a não ser que tal conste manifestamente ” (cân. 749 §3).

Só porque uma doutrina não é infalível, não significa que não seja obrigatória. Mesmo quando o papa não fala infalivelmente, se o papa articula uma questão de doutrina como parte de seu ensino ordinário, os fiéis “prestar o assentimento religioso do seu espírito ” (Catecismo da Igreja Católica 892).

Um ensino papal pode ter comportar vários níveis de autoridade e, embora a forma de averiguá-los vá além do escopo deste artigo, é importante notar que às vezes um papa pode não investir uma declaração com autoridade. Os papas são livres para expressar questões de opinião sem torná-las matérias de doutrina da Igreja. Isso costuma acontecer, por exemplo, quando um papa dá uma entrevista à imprensa.

PERGUNTA 8: A DECLARAÇÃO É AINDA APLICÁVEL?

Ainda que uma declaração papal tenha sido feita com autoridade, permanece a questão de se ela é aplicável hoje. Isso é verdade tanto para as declarações sobre a doutrina quanto para as declarações sobre as normas.

O Espírito Santo guia a Igreja de uma maneira que produz desenvolvimento doutrinário. Como resultado, as declarações papais anteriores sobre a doutrina podem ser substituídas por outras posteriores. Declarações infalíveis de doutrina não mudam, mas as não-infalíveis podem mudar.

Da mesma forma, usando o poder das chaves dado para governar a Igreja (Mt 16:19), o papa modifica de tempos em tempos a lei da Igreja para melhor se adequar às condições contemporâneas (por exemplo, mudando as leis sobre jejum e abstinência para melhor se adequar à sociedade moderna).

Mudanças doutrinárias e legais podem ocorrer de mais de uma maneira. Primeiro, um papa pode revogar diretamente uma declaração papal anterior. Isso é mais comum de acontecer quando um papa muda a lei.

Em segundo lugar, um papa pode emitir uma nova declaração que substitua a anterior, embora ele não se refira à declaração anterior. Isso é mais comum em questões de doutrinárias que de direito.

Terceiro, os papas podem simplesmente permitir que uma declaração de doutrina ou lei perca sua força por não repeti-la por um longo período de tempo, permitindo que caia em desuso ou o que os estudiosos chamam de “desuetude”.

Qualquer que seja o mecanismo que os papas escolham para realizar tais mudanças, o fato de que ocorrem significa que você não pode simplesmente pegar uma declaração papal de séculos atrás e assumir que ela se aplica hoje. Você deve consultar os ensinamentos e as leis mais recentes da Igreja se quiser saber o que se aplica agora.

Autor: Jimmy Akin

Fonte: https://www.catholic.com/magazine/print-edition/battling-the-papal-rumor-net

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